Desencanto e Desilusão na Psicoterapia

Atravessar o processo analítico ou de psicoterapia sempre nos reserva surpresas. Isso porque não é um processo linear e nem sempre é luminoso. Muitas vezes temos que seguir caminhos desconhecidos e passar por regiões sombrias de nossa alma sssim, atravessar a psicoterapia é compreender que o crescimento ou desenvolvimento interior envolve revisitar sentimentos doloridos, sensações e incomodos.

Dessa forma, com o avançar do processo analítico ou psicoterapeutico, quanto tudo está “indo bem”, com alguma frequencia nos deparamos momentos em que dois sentimentos, muito parecidos, nos invadem : a desilusão e o desencanto. Estes se manifestam na apatia, dúvida, decepção, cansaço ou tédio parecem invadir a análise. Alguns chegam a pensar que a terapia está dando errado. Mas, como entender esses sentimentos ou sensações? Qual o lugar do desencanto e da desilusão?

É importante diferenciarmos o desencanto e a desilusão. O desencanto seja com familiares, instituições, ou com o próprio analista, com muita frequência, está relacionado com a retirada da projeção de um contéudo/qualidade do próprio paciente que foi depositado no objeto e que sendo recolhida diminui a efeito que essa pessoa/objeto tinha sobre o sujeito, fazendo que paciente tenho o contato direto com a realidade do objeto – ou seja, lidamos com nossos familiares, amigos, instituições (igreja, trabalho etc) com ele são, com suas limitações e incongruências.

Jung dizia que “não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos”, quando temos consciência desse fato podemos ativamente buscar a diferenciação entre “quem sou” e o outro, que nos traria a nós mesmos o sentimento de integridade. De forma geral, as projeções visam nos proteger do alguma forma de sofrimento (como sensação de rejeição ou de abandono) estabelendo compensações sobre falhas ou de possíveis falhas na relação. Nessas situações, o paciente se vê numa situação de ver face a face, como pudessemos em estado de igualdade ver, a limitação e humanidade de nossos “idolos ou heróis”. Na retirada da projeção, podemos identificar dos aspectos de si que eram projetados e que precisavam ser desenvolvidos e reintegrados.

De modo muito semelhante ao recolhimento da projeção, temos a desilusão no rompimento de fantasias, ou seja, de uma construação imaginária (muito associada outros mecanismos defensivos como a idealização, cisão) que, em certas situações, substituiem aspectos da relidade, trazendo também segurança ao ego. Nessas situações, a desilusão diante da perda da fantasia pode gerar um estado de luto, com a descrença na própria capacidade de enfrentar a realidade. O rompimento de fantasias abre espaço para atividade imaginativa, não mais um substituto da realidade, mas a possibilidade de relação, elaboração e transformação da realidade.

O desencanto e a desilusão são experiências dolorosas. Muitas vezes, é necessário compreender que esse processo ocorre algumas vezes ao longo da análise. De acordo com o momento de vida, ele pode permitir um ajuste da persona, um redimensionamento nas relações e posicionamento social, ou mesmo uma compreensão dos motivos presentes na sombra, através da compreensão e integração dos complexos. Em outros casos, temos aspectos mais profundos, arquetípicos, associados aspectos do Self presentes nas fantasias ou projeções

Em todo caso, precisamos ter atenção para auxiliar o ego na travessia do desencanto ou da desilusão. A energia investida na projeção ou na fantasia não “retorna” simplesmente ao ego, ela precisa ser simbolizada, canalizada para o ego. Isso pode ocorrer tanto pela ressignificação da narrativa das experiências vividas (sob a projeção/fantasia), ou pela atitvidade voluntária e consciente do ego – escolhas, mudança de atitude – que reintegre tanto qualitativa e quantitavamente a energia fora investida no objeto.

Von Franz, em seu texto sobre Projeção, nos chama atenção para a cautela na condução analítica. Ela diz,

(…) qualquer retirada de projeção põe uma carga sobre a pessoa que reflete. Ea se torna reponsável por uma part de sua psique que até então ela não encarara como um fardo por achar que não fazia parte dela. O psicoterapeuta precisa, portanto, avaliar cuidadosamente quanto pode pedir a um paciente ou parcerio que reconheça. A consciência do ego é como um pescador em um bote grande ou pequeno; ele só pode acomodar certa quantidade de peixes (os conteúdos do inconsciente) no barco, caso contrário este pode afundar. Às vezes, somos forçados a permitir que o analisando continue a acreditar em maus espíriots ou em pessoas que o estão perseguindo, porque o reconhecimento de que ele tem esse demônio dentro de si literamente o mataria.

Mas mesmo pessoas com grande capacidade de reconhecimento têm seus limites. (Von Franz, 1999, p.288)

Compreender o momento e o quanto paciente pode suportar é um processo construido caso a caso, sessão após sessão. Temos que considerar o momento, a retirada da projeção ou desfazer da fantasia um processo natural da analise – muitas vezes, o forçar a retirada pode gerar sofrimento ou trazer prejuizos a relação terapeutica.

Referencias

FRANZ, Marie-Louise von, Psicoterapia, São Paulo: Ed. Paulus , 1999.

——————————————————–

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Pós-graduando em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos” Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. / e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes /Instagram @fabriciomoraes.psi

Publicado em Clinica Junguiana | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Nova turma – Curso Fundamentos de Psicossomática Junguiana

O Curso de Fundamentos de Psicossomática visa a aproximar e a discutir a psicossomática na contemporaneidade articulada aos aspectos fundamentais da teoria junguiana. O curso ainda propõe uma reflexão da medicina chinesa e tradicional, que oferecem uma visão simbólica, arquetípica e integrativa do corpo e processo de saúde-doença.

✔️Anota aí na agenda:
✅Dias: 20/10/22, 27/10/22, 03/11/22, 10/11/22, 17/11/22 e 24/11/22.
✅Horário: das 20h às 22h.
✅Modalidade: on-line na plataforma Zoom. Os encontros serão gravados e disponibilizados por 15 dias, após o término do curso.
✅Investimento: R$ 280,00 reais com certificado.
✅Inscrição: via link na bio @cepaes1, após o preenchimento da inscrição o cursando receberá o boleto de pagamento em seu e-mail.
✅Maiores informações: e-mail (contato@cepaes.com.br) e/ou whatssapp/telefone (27 993166985).
✅ Desconto: alunos e ex-alunos do Curso de Formação em Psicoterapia Junguiana do CEPAES terão 15% de desconto.

✅Coordenação
Fabrício Fonseca Moraes (CRP 16/1257) é psicólogo clínico junguiano, formado em 2003 pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), especialista em Psicologia Clínica e da Família pela Faculdade Saberes; especialista em Teoria e Prática Junguiana (UVA), com formação em Hipnose Ericksoniana pelo Instituto Milton Erickson do Espírito Santo e cursando em Acupuntura Clássica Chinesa pelo Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisas Aplicadas/Faculdade Interativa de São Paulo. Diretor Clínico do CEPAES, Professor do curso da Formação em Psicoterapia Junguiana e atua desde 2004 em consultório particular. Áreas de interesse/estudos: Escola Desenvolvimentista junguiana (Michael Fordham), Psicossomática (com ênfase em medicina chinesa) e religião comparada.

Publicado em Uncategorized | Com a tag , , , , | Deixe um comentário

Alguns Elementos de Psicossomática Junguiana

Em agosto de 2022, ofereci a primeira turma do curso “fundamentos de psicossomática junguiana”, onde integrei aspectos gerais da psicossomática, teoria junguiana e medicina chinesa – compreendendo que há uma certa lacuna na compreensão geral da teoria junguiana na compreensão do corpo, ou mais propriamente do que Jung chamou de “corpo vivo”, uma expressão ou conceito se só tornou clara a partir de minha prática clínica e estudos e prática em medicina chinesa.

Nessa ocasião(ago/22) estou concluindo em minha especilização em Acupuntura Clássica Chinesa que exige 300 horas prática de ambulatório, me permitiu compreender e refletir a minha prática clínica psicológica direcionamento meu olhar e escuta para os processos que Jung denominou de “corpo vivo”, que é nosso ponto de partida para pensar a psicossomática junguiana.

O Corpo Vivo

Na literatura junguiana e obras coligidas de Jung temos poucas referências o corpo e sua relação no processo analítico/psicoterapeutico, assim como poucas menções ao corpo vivo. Uma das afirmações mais efetivas acerca do corpo vivo está nos Seminarios sobre o Zarathustra de Nietzsche, onde Jung afirma

Mas o corpo é, naturalmente, também uma concretização, ou uma função, daquela coisa desconhecida que produz a psique tanto quanto o corpo; a diferença que fazemos entre a psique e o corpo é artificial. Isso é feito para uma melhor compreensão. Na realidade, não há nada além de um corpo vivo. Esse é o fato; e a psique é tanto um corpo vivo quanto o corpo é a psique viva: é exatamente a mesma coisa. (JUNG, Jung´s Seminar on Nietzsche´s Zaratura 1997, p113-4 – Tradução nossa)

Na concepção de Jung, o “corpo vivo” transcende a dissociação psique-corpo, de modo a superar a dicotomia cartesiana. O corpo vivo é uma expressão de uma visão integrativa. Que traz o Self que, com frequencia é percebido em seu aspecto transcendente, para seu aspecto imanente isto é, para o corpo. O corpo vivo, vivido é uma experiência imediata e transfomadora que os cujos simbolos emergem do/no corpo. Jung afirmou que

Os símbolos do si-mesmo surgem na profundeza do corpo e expressam a sua materialidade tanto quanto a estrutura da consciência discriminadora. O símbolo é o corpo vivo, corpus et anima; por isso, a “criança” é uma fórmula tão adequada para o símbolo. A singularidade da psique é uma grandeza em vias de realização, nunca de um modo total, mas aproximativo, a qual é ao mesmo tempo o fundamento imprescindível de toda consciência. As “camadas” mais profundas da psique vão perdendo com a escuridão e fundura crescentes a singularidade individual. Quanto mais “baixas”, isto é, com a aproximação dos sistemas funcionais autônomos, tornam-se gradativamente mais coletivas, a fim de se universalizarem e  ao mesmo tempo se extinguirem na materialidade do corpo, isto é, nas substâncias químicas. O carbono do corpo é simplesmente carbono. Em seu nível “mais baixo” a psique é pois simplesmente “mundo”. Neste sentido dou toda razão a KERÉNYI quando este diz que no símbolo fala o próprio mundo. Quanto mais arcaico e “mais profundo”, isto é, mais fisiológico o símbolo, tanto mais ele é coletivo e universal, tanto “mais material”.Quanto mais abstrato, diferenciado e específico, tanto mais se aproxima da natureza da unicidade e singularidade consciente e tanto mais se desfaz do seu caráter universal. (Jung, 2000, p. 173)

Jung compreendia que era necessário integrar o corpo, os processos somáticos às transformações ocorridas na psicoterapia. O corpo vivo é, em si mesmo, simbolo. É importante compreender o “corpo vivo” implica falar de símbolo como/no corpo é diferente de falar de “corpo simbólico”. Este ultimo visa o aspecto psíquico, que abstrai o corpo, a matéria, visando as representações psiquicas que tendem ao afastamento do corpo, valorizando as expressões e e amplificações percebidas via cultura – como na mitologia, religiões comparadas.

Compreender o corpo vivo signfica pensar os simbolos no corpo, inconsciente psicóide e o Self imanente.

Símbolos e a Energia Biopsiquica

É bem sabido que, para Jung, compreender os processos do inonsciente deveriamos estudar os mitos e contos de fadas que nos forneceriam referências simbólicas/arquetípicas expressas na cultura e história das religiões, para assim compreender os símbolos. Em seu método de amplificação Jung indica a importante de “circular” em torno do símbolo, compreendendo seus paralelos históricos pessoais, culturais e mitológicos para compreender a mensagem simbólica . O estudo da mitologia é de tal importância que, em seu encontro com Nise da Silveira, afirmou que sem o estudo de mitologia, ela não compreenderia as fantasias, delirios e produções de seus pacientes.

As narrativas dos mitos e contos de fadas nos oferecem uma cartografia da alma, possibilidando compreender os simbolos emergentes especialmente em sonhos, fantasias e imaginaçao ativa. Em alguns casos, o simbolismo mitico-religioso também é eficaz para compreensão e amplifcação dos processos psicossomáticos. Em muitos outros não é suficiente. A questão central é : existem mitologias do corpo? Existem sistemas simbólicos corporais? Sim. Existem. As medicinas tradicionais (como a chinesa, ayurveda, kampo, indigenas dentre outras) oferecem não só técnicas/praticas curativas mas uma compreensão arquetípica, simbólica e energética dos processos de adoecimento integrando o individuo e a natureza.

Infelizmente, até onde podemos ver, Jung não teve contato com as medicinas tradicionais. Sabemos em suas memórias que ele teve um contato com as práticas indianas do yoga – que ele utilizou em seu periodo de “confronto com o inconsciente”, para manter a integridade corpo-psique até conseguir compreender as imagens subjacentes as emoções. Jung possuia um conhecimento sobre a filosofia védica mas não relata qualquer contato com as praticas medicinais da medicina ayurveda. Do mesmo modo, Jung fala o taoísmo, em parceria com Richard Wilhelm escreveu um comentário ao Segredo da Flor de Ouro e a introdução à versão do I Ching, mas não temos qualquer indicativo que Jung teve contato aprofundado com a medicina chinesa.

As medicinas tradicionais trazem milênios de narrativas e cuidados sobre o corpo. Nos exemplos citados, a medicina chinesa e a indiana da ayurveda, falamos de cerca de 3 a 5 mil anos de experiência médica que intregando possibilidades de compreender os males do corpo e alma. Acredito que todo junguiano interessado psicossomática deveria estudar as medicinas tradicionais, para compreender o corpo e seu simbolismo, dinâmicas energéticas com a mesma seriedade que estudamos mitologia.

Na perspectiva junguiana simbolo é indissociavel da energia psiquica (ou biopsiquica pois, aqui falamos do corpo, ou tanto biológico e psiquica), Jung afirmava que os simbolos eram “transformadores de energia”. Os simbolos converteriam ou transformariam a energia tornando-a disponivel ao tanto a dinâmica do psique quanto ao uso voluntário.

Na prática, o conceito de energia é indissociavel do de afetividade como Jung observou desde o inicio de suas pesquisas com associações de palavras que conduziram ao desenvolvimento do conceito de complexos. A observação de como os fenômenos decorrentes da constelação complexos não só interferiam no curso da consciência (pela frequência e intensidade) assim como afetavam curva de pulso, curva respiratória e fenômenos psicogalvânicos indicaram para Jung o quanto a afetividade era uma manfestação energética refletida na integridade do individuo (na consciência, no inconsciente e no corpo).

Deste modo, a afetividade – emoções e sentimentos – são expressões da energia biopsiquica desde o corpo até os aspectos superiores do julgamento. As manifestações somáticas cono dor; movimentos involuntários, tremores, rigidez, sensações como anestesia, prurido, hiperemia, parestesias, cansaço, calor ou frio dentre ontras; deveriam ser compreendidas como simbolos – pois, indicam transformações de energia, com um signficado então oculto.

Daí a importancia considerarmos as medicinas tradicionais, que indicam meios de compreensão, narrativas e metaforas para processo saúde-doença. Em geral, baseiando-se em desequilibrio energético, problemas em relação com fatores socioambientais que afetam o corpo e a psique. É justamente esse aspecto sutil ou energético que nos permite mapear as manifestações arquetípicas no corpo, percebendo os padrões energéticos/afetivos manifestos no corpo que foram registrados ao longo dos milẽnios.

Os simbolos no corpo são uma expressão importante do inconsciente psicóide.

O inconsciente Psicóide

Jung incorporou em sua contrução teórica o conceito de psicóide de Bleuler, que indicava uma uma qualidade intermediária da experiência vital que não era nem propriamente psiquica nem somática.

Se uso o termo “psicóide” , faço-o com três ressalvas: a primeira é que emprego esta palavra como adjetivo e não como substantivo; a segunda é que ela não denota uma qualidade anímica ou psíquica em sentido próprio, mas uma qualidade quase psíquica, como a dos processos reflexos; e a terceira é que esse termo tem por função distinguir uma determinada categoria de fatos dos meros fenômenos vitais, por uma parte, e dos processos psíquicos em sentido próprio, por outra. Esta última distinção nos obriga também a definir com mais precisão a natureza e a extensão do psíquico, e de modo todo particular do psíquico inconsciente. (Jung, 2000a, 116)

O aspecto psicóide da psique compreende uma zona de integraç ão ou transição entre corpo e psique. Essa zona intermediária compreendemos como “inconsciente psicóide”, que nos permite compreender os fenômenos de psicossomáticos, assim como processos não-integrados ou pré-simbólicos.

Acima fizemos uma citação, onde Jung chama atenção para o fato de quanto mais profundo for o simbolo isto é mais arcaico (ou arquetípico), mais material/corporal se apresenta. Dessa forma, a maioria dos processos na esfera psicóide não atingem a consciência, se manifestando em alterações somáticas. As alterações podem se manifestar em forma mais simples que poderíamos chamar de disturbios associados ao bem estar (dores de cabeça, incomodos gastrointestinais), indicam as transformações que são frequentemente mas percebidos apenas como “sinais”por nossa consciência, como se fosse apenas um infortúnio sem significado. /

As transformações ou canalizações da energia podem ser percebidas pelo excesso ou hiperexcitaçao de um sistema ou órgao, ou pela deficiencia do dinâmica energética falta que é sentida lentidão, diminuição de funções. Isso significa que pode alterar o tónus muscular, a capacidade circulatória e respiratória e produção hormonal dentre outras. Podendo gerar tanto transtornos do bem estar quanto quadros mais graves que com alterações nos órgãos e tecidos. Tais processos poderiam se manifestar como sonhos ou intuições ( inclusive revelando adoecimentos somáticos) que levariam a elaboração simbolica, modificando a atitude da consciência, que proporcionando a modificação dos fatores que geraram o adoecimento.

É muito importante entendermos o inconsciente psicóide, expresso em símbolos somáticos, a que a elaboração dos processos de adoecimento pode se dar tanto por via psíquica, pela elaboração simbólica ou por via de intervenção somática, com a canalização e desbloqueio da energia biopsiquica através de métodos e praticas como acupuntura, yoga, massagens dentre outras – vale lembrar quem em suas memórias Jung afirma ter recorrido ao yoga para encontrar a estabilidade no inicio de seu processo de confronto com o inconsciente, posteriomente ao “encontrar as imagens por detrás dos afetos” ele pode continuar sua pesquisa.

Desta forma, a associação tanto de técnicas corporais (como o método caltônico desenvolvido por Pethő Sándor) como algumas praticas integrativas complementares à saúde (PICS) e analise/psicoterapia oferecem uma eficácia enorme justamente amplo trazendo uma possibilidade impar de lidar com adoecimento e a integração.

Self Imanente

Fazer a distinção de “Self” em transcendente e imanente é torna importante pois refletem dois aspectos do conceito de Self. O primeiro, transcedente, se refere aos aspectos mitícos, religiosos culturais compreendidos com frequência referenciado “imago dei”, ressalta o aspecto vivido na metade da vida, no processo de individuação. O Self imaente se refrere a base e corporal, a partir do qual o desenvolvimento se desdobra desde a vida intrauteriana e se desenvolve até o fim da vida.

Os dois autores junguianos que discutiram o desenvolvimento – Fordham e Neumann – concordavam que o Self inicialmente é integrado, corporal – ou primário. Noção que divergia nas noções clássicas inclusive das descrições de Jung. Sonu Shamdasani, reporta um relato de Mario Jaboby, de sua época de estudante no Instituto Jung de Zurique em 1959, que nos dá uma idéia de como essas duas perpectivas geravam polemica,.

Apenas, a sempre destemida Jolande Jacobi, que também estava presente, ousou contradizê-lo. Ela não estava feliz com a noção de Neumann de equiparando a experiência do bebê com a mãe com a do Self no sentido junguiano.[…] Ela estava – como ela disse – convencida do fato de que o Self é uma realidade metafísica que se estende na experiência humana. “Isso é exatamente o que o Self não é” interrompeu Neumann. Com seu humor, sua clareza de pensamento e sua influência persuasiva ele poderia se manter , mesmo em face de alguns analistas de treinamento presentes, todos diretos alunos de Jung. (Jung, Neumann, 2015, p. Lii)

Naturalmente, Neumann apresentava suas ideias a um público “delicado”, contudo, hoje compreendemos o Self nesses dois aspectos – transcendente e imanente. No nos diz respeito, ao compreendermos a dinâmica de desenvolvimento – quer é Fordham ou em Neumann – podemos perceber o Self no corpo, o Self o pano de fundo para o desenvolvimento da psique que nos permite compreender que o psiquismo emana das potencialidades arquetípicas desdobradas a partir do Self psicossomático.

Sobre esse temática do desenvolvimento convido o leitor a ler esses dois artigos que discuto o tema pela perspectiva de Fordham:

http://psicologiaanalitica.com/perspectivas-junguianas-acerca-do-ego-parte-1/

http://psicologiaanalitica.com/as-defesas-do-self-e-a-experiencia-traumatica/

Palavras Finais

Alguns elementos ficaram para outro texto como as defesas e resistências que operam no corpo. Acredito que em outro momento revistaremos essa temática da psicossomática que é um tema caro e precisamos ampliar a compreensão junguiana integrando aspectos fundamentais em relação às medicinas tradicionais e suas contribuições a compreensão da simbologia da dinâmica energética do corpo.

Referências

JUNG, C.G. Jung’s seminar on Nietzsche’s Zarathustra / edited and abridged by James L. Jarrett, Princeton, N.J. : Princeton University Press, 1998

JUNG, C.G. Os arquétipos e o Inconsciente Coletivo, Petrópolis: Vozes, 2000.

JUNG, C.G. Natureza da Psique, Petrópolis:Vozes, 2000a.

JUNG, C.G.; NEUMANN, E. Analytical Psychology in Exile: The correspondence of C.G. Jung and Erich Neumann, Princeton : Princeton University Press, 2015.

——————————————————–

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Pós-graduando em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos” Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. / e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes /Instagram @fabriciomoraes.psi

Publicado em Uncategorized | Com a tag , , , , , , , , , | Deixe um comentário

O Curso de Técnicas Expressivas na Abordagem Junguiana tem como objetivo trabalhar aspectos fundamentais da abordagem simbólica a partir do método junguiano (amplificação e circulambulação), aprofundando-se em recursos terapêuticos clássicos junguianos: arte/arteterapia. O curso tem caráter teórico-vivencial.

FACILITADORAS:
Dra Kelly Guimarães Tristão – Psicóloga Junguiana (CRP16/1398), Doutora em Psicologia, Especialista em Teoria e Prática Junguiana Especialista em Psicologia Clínica e da Família. Diretora do Centro de Psicologia Analítica do ES. Docente de ensino superior e da Formação em Psicoterapia Junguiana.

Edneide Assis – Arterapeuta Junguiana, Artista Plástica, Especialista em Psicologia Analítica. Membro da AARTES (Associação de Arteterapia do Espírito Santo). Arterapeuta no CEPAES e professora da Formação em Psicoterapia Junguiana.

✔️Anota aí na sua agenda:

✅Data: 17/set das 8h:30min às 17h:30min.
✅Local: Vitória/ES.
✅Investimento: R$ 285,00 à vista ou R$ 300,00 dividido em até duas vezes no cartão de crédito. pagamento por cartão na sede do CEPAES. ✅* Material e apostila inclusos.
✅ VAGAS LIMITADAS.
✅ Inscrições e outras informações: contato@cepaes.com.br e no telefone ou whatsApp (027) 999267779

Obs.: Arte baseada na pintura da talentosíssima @edi.arteterapia, gratidão ♥️

💙 Vem com a gente!

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Nel Mezzo del Camin de Bilac e o Ponto de Curva

As artes sempre expressaram e deram formas tangíveis a experiência humana de forma plena e criativa. A poesia é uma das formas de arte que através das palavras testemunham afetivamente as vivencias humanas. Uma dessas experiências são os rompimentos de laços afetivos, fim de relacionamentos e/ou mudanças de fases da vida.

Na minha prática clínica, diante dessas situações, eu costumo utilizar uma figura de linguagem “o ponto de curva”, essa é uma expressão que me veio há alguns anos, a partir da leitura desse soneto de Olavo Bilac:

Nel Mezzo del Camin

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha…

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

1884/1887 (1888). Poema integrante da série Sarças de Fogo.

Durante muito tempo fiquei impregnado pela última estrofe, depois, pelo último verso. De tal modo, que incorporei em minha prática como o “ponto de curva”. Longe de ser um conceito, é uma experiência vital, existencial, de nos encontrarmos no limite “extremo” de relacionamentos. Mas, precisamos compor a melhor a imagem.

Costumo dizer aos pacientes, “imagine você saindo de casa, a qualquer momento você pode olhar para trás e ver sua casa, ver seu lar. O ponto da curva, é justamente aquela esquina, a curva onde um passo separa aquele ponto onde se você olhar para trás você não vê mais para sua casa, seu lar”.

O ponto da curva é justamente a esquina da vida, a extrema curva do caminho extrema, é um ponto distante onde um passo separa o que conhecemos de nossa vida ou não. Onde, ao voltar a face e olhar, pode-se ver ou não ver a pessoa que até então o acompanhou no caminho, ou a casa, a infância, enfim, é o ponto limiar onde podemos ver ou não ver a nossa vida pregressa.

 Ao atravessar o limiar da curva extrema, como bem apontou Bilac nem o pranto umedecem os olhos, nem dor da despedida comove. No poema, o narrador viu a pessoa amada virar a curva extrema, vendo seu vulto desaparecer, numa distância que se tornou irreconciliável. 


Às vezes, a dor, a tristeza ou a decepção produz uma distância tamanha que nos faz pensar que estamos na curva extrema do caminho extremo. Mas, o que vemos ao voltar a face? Há uma casa, uma família, uma pessoa, uma vida para onde voltar?, para onde vale a pena voltar? Enquanto não ultrapassamos o ponto de curva, o passo derradeiro ainda não foi dado e pode haver esperança.  

O ponto de curva, a curva extrema fala de distância, fala do silêncio e do espanto ao percebermos a distância que os caminhos tomaram. Não posso deixar de falar de um ato (nada) falho na digitação deste texto, por vezes, digitei o “ponto de curva” como “ponto de cura”. Sim, muitas vezes o ponto de curva também é o ponto de cura – ora como um o regresso, compreendendo significado do que está prestes a se perder, ora é o ponto é necessário dar o próximo passo e seguir em direção ao caminho extremo.

Em todo caso, o ponto de curva (ou de cura) nos conecta com nossa vida, com nosso futuro – quer pelo regresso ou pelo ir adiante. É sempre importante, no caminho extremo, olhar trás para ver a qual distância que estamos daqueles e daquilo que, em algum momento, amamos.



Referência

BILAC, Olavo. Poesias. Posfácio R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 197

Gostou? Compartilhe e comente

——————————————————–

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Pós-graduando em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos” Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. / e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/

Twitter:@FabricioMoraes /Instagram @fabriciomoraes.psi

Publicado em Clinica Junguiana, Uncategorized | Com a tag , , , , | Deixe um comentário